Axé a tod@s !!!

Poesia, textos, música, versos, poemas e o que puder ser inspiração para vida...

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Menino Que Carregava Água Na Peneira

(Manoel de Barros)

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

domingo, 29 de novembro de 2009

Escola promotora da reflexão ambiental


“Educação Ambiental deve ser fundamentada, em uma lógica de apropriação das discussões,
mais, sobretudo de apropriação da mudança de mentalidade e de comportamento”


A educação tem um papel crucial na vida dos sujeitos, é a partir dela e com ela, que poderemos construir uma sociedade crítica e autônoma. O espaço da escola deve nos privilegiar a ação reflexão, em especial da construção histórica dos sujeitos pautando seu papel na sociedade e resignificando valores e mudança de mentalidade para o rompimento dos antigos paradigmas.
É nessa conjuntura que a Educação Ambiental se configura, na perspectiva de desmistificar conceitos estereotipados na sociedade e de fomento de uma cultura de participação, democratização e de construção de novos modelos para uma sociedade sustentável a partir do Meio Ambiente, considerando o mesmo como todo o conjunto que envolve as diversas realidades, meios de vida, de relacionamento, subjetividade, do modelo de consumo etc.
É necessário colocar no centro do processo educativo a formação da cidadania que vem ao encontro das modernas concepções da educação, que redefinem a função social da escola na construção do exercício da cidadania. Visam a uma sociedade mais justa, solidária e fraterna, através da valorização da vida em todos os seus aspectos. (Marcos Referenciais). A educação precisa de significado, pois é responsável pela autonomia do conhecimento, gerado a partir da cultura coletiva e se desdobrando para o individual, na qual o processo de aprendizado e de fundamentação do empoderamento dos sujeitos nasce da construção coletiva com a participação e envolvimento de um todo. É nesse sentido que a Educação Ambiental-EA deve ser fundamentada, em uma lógica de apropriação das discussões, mais, sobretudo de apropriação da mudança de mentalidade e de comportamento frente a um novo modelo de sociedade em que possamos estabelecer relações iguais a partir da sustentabilidade e preservação da natureza que muito tem a nos ensinar e a contribuir nos aspectos ecológico, saúde, educação, relação do meio com a sociedade etc. No processo de ensino aprendizagem, somos todos motivados e responsáveis pelo o desenvolvimento do Meio Ambiente, o espaço escolar é fundamental para a sensibilização e conscientização, pois é nesse espaço que são construídas as fundamentações teóricos onde educadores e educandos discutem e encontram possíveis saídas para as diversas realidades dentro de uma mesma sociedade, levando em conta o antagonismo da mesma. É no espaço da escola que percebemos a pluralidade e a possibilidade de transformação da realidade que antes a qualquer mudança de postura há de se ter um mudança de mentalidade, e que o mesmo é fruto de muitas discussões,debates, decisão e interesse político, considerando que existe uma política para a Educação Ambiental- EA.
A EA pode e deve ser trabalhada de várias formas e métodos, uma delas se dá através dos temas transversais e da interdisciplinaridade, onde o tema se relaciona com o cotidiano da escola mais também com a vida dos educandos, acreditamos que para um Meio Ambiente Sustentável precisamos iniciar o debate nas escolas e levarmos para todas as instituições e espaços que ocuparmos para um processo de convencimento da importância da mesma na construção de uma sociedade emancipada sustentavelmente.

Josineide Luz de Freitas

Simone Sousa do Nascimento







domingo, 15 de novembro de 2009

A sala de aula para além dos muros da escola

A escola pública dos últimos tempos é tema de discussões acerca de sua metodologia constatada como depositária de conteúdos e não considera o individuo como pessoa que tem histórias de vida. Sabemos que a raiz dos fatos muito tem haver com nosso processo histórico de educação desde a vinda dos jesuítas com aculturamento dos índios na qual por muito tempo prevaleceu o ensino voltada para religião e que definia como verdades absoluta o ideal de formação cristã na convivência cidadã das pessoas. Com o advento das industrias surgem também às escolas de massas no sentido também de enquadrar os indivíduos em modelos denominados como fordismo e taylorismo, mais preocupado com o crescimento capital do que com a questão da formação humana. Entre essas citações há outros paradigmas que influenciaram nosso modelo de educação atual diagnosticada como fracassada, com grande índices de analfabetos funcionais e sobre tudo ausência da visão questionadora do mundo. Diante de tais fatos podemos refletir sobre que tipo de educação queremos? O que devemos considerar nesse processo? Que metodologia devemos usar? Hoje há discussões acerca do desafio da pedagogia norteada nos princípios da diversidade, inclusão, participação democrática e etc, que ao meu ver aproxima mais o ideal de escola que humaniza que direcione as crianças, adolescentes e jovens para serem construtores ativos da sociedade e exercendo a cidadania de forma plena. É necessário ainda um novo jeito de ensinar o professor tem que sair dessa postura linear e colocar-se na posição de facilitador na hora do aprender, Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia nos diz que ensinar não é transferir conhecimento, é criar possibilidade para sua própria produção. Concordando com idéia do autor ao retratar que o conhecimento só é conhecimento se tiver ligação com a vida e ainda experimentado sendo assim o educad@r é responsável pela criação de situações que faz com que o educand@ crie suas deduções e construa suas próprias respostas é necessário ainda a constante conexão entre prática e teoria no exercício da nossa profissão de educad@r, embora sabemos que somos frequentemente engolidos pelo viés capitalista que mantém as desigualdades na sociedade e as diferenças culturais. A escola deveria ser ao meu olhar um organismo que tem vida, evolui, interagem com outros organismo, encara desafios e possibilidades e reflete sua função no seu contexto.
Simone Sousa





sábado, 7 de novembro de 2009

Quando a escola é de vidro (Ruth Rocha)


Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...Eu ia para a escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.É, no vidro!Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!O vidro dependia da classe em que agente estudava.Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.Se não passasse de ano, era um horror.Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado?Coubesse ou não coubesse.Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, às vezes até batiam no professor.Ele ficava louco da vida e atarraxava a tampa com forço, que era pra não sair mais.A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabiam nos vidros, se respiravam direito...A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física.Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio.E na aula de Educação Física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinham jeito nenhum para Educação Física.Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.E alguns meninos também.Estes eram os mais tristes de todos.Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza!Se a gente reclamava?Alguns reclamavam.Então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.A minha professora dizia que ela sempre tinha usado vidro, até para dormir, por isso é que ela tinha boa postura.Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer á vontade.Então a professora respondeu que era mentira.Que isso era conversa de comunistas.Ou até coisa pior...Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros.E tinha uns que mesmo quando saiam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que estranhavam sair dos vidros.Mas uma vez veio para a minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que era pobre.Ai não tinha vidro pra botar esse menino.Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.Engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...Os professores não gostavam nada disso...Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós...Nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até meio que gozava a cara da gente que vivia preso.Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:_Se Firuli pode por que é que nós não podemos?Mas dona Demência não era sopa.Deu um croque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...Já no outro dia a coisa tinha engrossado.Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.Hermenegildo chegou muito desconfiado:Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli.È um perigo esse tipo de gente aqui na escola.Um perigo!A gente não sabia o que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.Seu Hermenegildo não conversou mais.Começou pegar os meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros.Mas nós estávamos loucos para sair também, e para cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro, já tinha dois fora.E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era para ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais e dona Demência já estava na janela gritando:_SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS! (Pra ela bárbaro era xingação).Chamem os Bombeiros, o Exército da Salvação, a Polícia Feminina...Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria toda de novo.Então diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:_Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...Seu Hermenegildo não se perturbou:_Não tem importância.A gente começa experimentando isso.Depois a gente experimenta outras coisas...E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...